Em 1903 Friedrich Katzer citou pela primeira vez a presenca de “terra preta” na regiao amazonica, e chegou a afirmar que “a maior riqueza peculiar da regiao encontra-se nesses solos”. Em 1966 outro pesquisador, Wim Sombroek, estimou a presenca de mais de 10.000 ha de terras pretas somente na regiao do estuario do rio Xingu, aproximadamente 3% da area total. Estudos posteriores estimam uma cobertura de 0,1 a 0,3 % de toda a bacia amazônica (6 Mi km2), o que corresponde de 6 mil a 18 mil km2, (Sombroeck et al., 2003; citado por Kern et al., Livro). Outras estivativas chegam a 1% (Kern et al., Livro). Elas ocorrem principalmente ao longo dos rios e em varzeas e apresentam uma espessura média de 50 cm, aparecendo em manchas que variam de 1 ha a 500 ha de extensao, porém em sua maioria ocorrem entre 2 e 5 ha (Smith, 1980; Rooswvelt, 1991; citados por Kern et al., Livro). Em sua maioria estao formadas sobre Latossolos e Argissolos.
ORIGEM
Estudos antropológicos sustentam a origem antropogenica de terra preta, que é hoje uma hipótese praticamente incontestável, ou seja, as terras pretas sao solos modificados em sua constituicao fisica, quimica e biologica pela atividade humana. Os povos amazonicos foram depositando cinzas assim como residuos dep eixes, conchas, caça, dejetos humanos e outros compostos orgânicos aos arredores dos locais habitados. (Kern et al., Livro). Considerando o elevado processo de intemperismo na regiao amazônica é de se concluir que para a sua formacao a taxa de deposicao de materiais organicos tenha sido superior à taxa de perda por volatilizacao, lixiviacao e erosao, caracterizando assim o sedentarismo das agrupacoes humanas (Woods, Livro). A pratica de queimada dos restos dométicos assim como da vegetacao para preparo so solo para plantio era comum.
CARACTERISTICAS MORFOLÓGICAS, QUÍMICAS E FÍSICAS
Uma grande variacao entre os solos de terra preta sao mencionados, mas algumas caracteristicas sao comuns. Solos antropogenicos apresentam uma tonalidade escura que se deve principalmente à elevada concentracao de material organico humificado na forma de carvao pirogenico, resultado das práticas de queimada (Kern et al., Livro). Além de altos teores de C organico, também P, Ca, Mg e outros micronutrientes sao encontrados em abundancia comparado aos solos adjascentes (Kern et al., Livro). Varias propriedades dos solos se diferenciam positivamente dos solos adjascentes, como capacidade de troca catiônica, saturacao de bases, pH, retencao da umidade, estrutura fisica e atividade biologica (Woods, W., Livro). Lehmann et al., 2003 e Steiner et al., 2004 afirmam que a terra preta apresenta até 70 vezes mais carbono do que os solos adjacentes o que favorece na estabilizacao da materia organica, aumenta a atividade microbiana, ajuda a repelir insetos e reduz a lixiviacao de nutrientes, mantendo elevado portanto a fertilidade do solo e consequentemente sua produtividade agricola e a sustentabilidade. A elevada resiliencia da terra preta com relacao à degradacao química e física foi constatada por Teixeira et al., 2003. A prática do pousio que se observa entre os agricultores locais se dá nao pela degradacao da fertilidade do solo, mas pela dificuldade de controlar as plantas invasoras. Major et al., 2005 constataram que a velocidade e a densidade da invasao por ervas daninhas é varias vezes maior na terra preta que nos solos adjacentes.
CERAMICA
Outra característica das terras pretas antropogenicas da Amazonia sao presenca de fragmentos ceramicos e artefatos líticos. Datacao por Radiocarbono de diferentes sitios de terra preta revelam uma antiguidade da ceramica nao superior a 2000 anos (Eden et al., 1984; Andrade, 1986; Mora, 2001; citado por Costa et al., Livro). Análises da composicao mineralógica dos restos ceramicos mostram altos teores de P (até 9% P2O5?) que contrastam com os solos locais (até 0,28% P2O5?) (Costa et al., Livro). Além de armazenar nutrientes os restos de ceramica podem contribuir positivamente para a retencao de água no solo.
Uma variacao da terra preta já mencionada primeiramente por Sombroeck et al., 1966 é a terra mulata. Esta difere da terra preta nao somente na cor, apresentando coloracao mais clara, mas também na quase inesistencia de artefatos ceramicos, assim como pelos teores de nutrientes nao tao elevados. Mantém porém elevados teores de C. Acredita-se que estas terras foram utilizadas para a agricultura semi-intensiva, resultando assim das frequentes queimadas e do mulching/composting (Woods e McCann?, 1999).
Atualmente as terras pretas antropogenicas sao utilizadas na agricultura de subsistencia pelos caboclos com culturas como papaya, maiz, sandia, frijoles e huertos de forma satisfatória com ausencia ou baixo uso de insumos (Teixeira et al., Livro).
O melhor conhecimento das propriedades da terra preta do indio em especial do carbono pirogenico pode contribuir para o desenvolvimento de novas tecnologias no que se refere à mitigacao de emissao de gases e sequestro de carbono.
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